segunda-feira, 13 de maio de 2013

Educação e Facebook: o que dizem as pesquisas

Os principais motivos de uso do Facebook por estudantes estão relacionados com a interação social, principalmente na manutenção de relações já existentes.

 Costuma-se dizer, hoje em dia, que todos devem “aprender a aprender”, ao longo da vida. Se esse é um bom conselho, mais válido ainda o é para os professores. Nesse sentido, o aprendizado pelo consumo crítico da investigação acadêmica é uma habilidade importante para os docentes. O professor que acompanha a pesquisa nos temas em que tem interesse é beneficiado, no mínimo, duplamente: pode obter conhecimentos que aperfeiçoem suas práticas e ver que “não está sozinho” – muitas dificuldades são descritas em investigações educacionais.
Esse preâmbulo ao tema “Facebook e educação” se justifica pelo fato da discussão estar baseada na consulta à literatura. Pois bem, o que dizem as pesquisas sobre o assunto?
 
A revisão de estudos empíricos de Hew (Students’ and teachers’ use of Facebook, Computers in Human Behavior, v. 27, 2011, p. 662–676) organiza um número já expressivo de pesquisas (36) em três grandes tópicos de discussão: o uso que os estudantes fazem do Facebook, os efeitos deste uso e as atitudes dos estudantes quanto a essa rede social. Como nota o autor, existe socialmente uma divisão entre os defensores do Facebook e seus efeitos na educação e os críticos, que ressaltam a influência negativa do gasto de tempo excessivo em atividades sem relação com o estudo formal. No entanto, ao verificarmos o que se passa na realidade, pelas lentes da investigação, damos um passo além das opiniões prévias.
 
Assim, a revisão feita por Hew evidencia de modo mais claro que:
 
• Os principais motivos de uso do Facebook por estudantes estão relacionados com a interação social, principalmente na manutenção de relações já existentes;
 
• Embora as práticas ligadas à educação sejam percebidas pelas pesquisas, este tipo de uso é francamente minoritário, por parte dos estudantes;
 
• O possível efeito negativo desse baixo uso voltado à aprendizagem é contrabalançado pelo tempo não muito elevado (de dez minutos à uma hora por dia) que os estudantes gastam na rede social;
 
• Experiências negativas de uso do Facebook (ser perseguido, expor-se inadvertidamente à pornografia, materiais ilegais, etc.) aparecem com baixa frequência, conforme os dados sobre os estudantes. A despeito disso, a questão do controle da privacidade merece atenção, já que muitos deles demonstram ter conhecimento insuficiente do assunto, de modo que tornam públicas informações pessoais, sem clareza desse fato;
 
• Uma pesquisa aponta um menor rendimento acadêmico e menos horas de estudo entre usuários do Facebook, em comparação com não usuários. Entretanto, tal aspecto precisa ser mais investigado, já que o trabalho não permite inferir causalidade; 
 
• O efeito que as informações postadas por uma professora têm quanto à percepção dela pelos alunos é destacado num dos trabalhos. Sugere-se que, para efeito da confiança dos estudantes, a maior abertura do perfil e informações mais diversificadas têm resultado positivo.  A questão da credibilidade do professor, a partir de sua exposição no Facebook, porém, merece aprofundamentos.
 
Ao tentar explicar por que o Facebook é pouco usado com enfoque na aprendizagem pelos estudantes, Hew aponta a expectativa de uso recreativo da rede por eles, que tendem a separar propositalmente as práticas educativas e o uso do Facebook.
 
Embora somente parte das pesquisas desta revisão se desenvolva em contextos diretamente pedagógicos (instituições educativas, cursos, por exemplo), chama a atenção o fato de que o papel das escolas e professores é pouco explorado nas investigações. Assim, se por um lado sabemos que as expectativas dos estudantes no uso de redes voltam-se ao reforço ou manutenção de laços sociais e a uma dimensão mais lúdica, por outro, qual é a visão da escola e do professor diante disto? E quais têm sido suas práticas?

Richard Romancini

Richard é doutor em Comunicação, pesquisador e professor do curso de pós-graduação lato-sensu em Educomunicação da ECA-USP.

LEIA A REPORTAGEM NA ÍNTEGRA .

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