Os principais motivos de uso do Facebook
por estudantes estão relacionados com a interação social,
principalmente na manutenção de relações já existentes.
Costuma-se
dizer, hoje em dia, que todos devem “aprender a aprender”, ao longo da
vida. Se esse é um bom conselho, mais válido ainda o é para os
professores. Nesse sentido, o aprendizado pelo consumo crítico da
investigação acadêmica é uma habilidade importante para os docentes. O
professor que acompanha a pesquisa nos temas em que tem interesse é
beneficiado, no mínimo, duplamente: pode obter conhecimentos que
aperfeiçoem suas práticas e ver que “não está sozinho” – muitas
dificuldades são descritas em investigações educacionais.
Esse preâmbulo ao tema “Facebook e
educação” se justifica pelo fato da discussão estar baseada na consulta à
literatura. Pois bem, o que dizem as pesquisas sobre o assunto?
A revisão de estudos empíricos de Hew (Students’ and teachers’ use of Facebook, Computers in Human Behavior,
v. 27, 2011, p. 662–676) organiza um número já expressivo de pesquisas
(36) em três grandes tópicos de discussão: o uso que os estudantes fazem
do Facebook, os efeitos deste uso e as atitudes dos estudantes quanto a
essa rede social. Como nota o autor, existe socialmente uma divisão
entre os defensores do Facebook e seus efeitos na educação e os
críticos, que ressaltam a influência negativa do gasto de tempo
excessivo em atividades sem relação com o estudo formal. No entanto, ao
verificarmos o que se passa na realidade, pelas lentes da investigação,
damos um passo além das opiniões prévias.
Assim, a revisão feita por Hew evidencia de modo mais claro que:
• Os principais motivos de uso do
Facebook por estudantes estão relacionados com a interação social,
principalmente na manutenção de relações já existentes;
• Embora as práticas ligadas à
educação sejam percebidas pelas pesquisas, este tipo de uso é
francamente minoritário, por parte dos estudantes;
• O possível efeito negativo desse
baixo uso voltado à aprendizagem é contrabalançado pelo tempo não muito
elevado (de dez minutos à uma hora por dia) que os estudantes gastam na
rede social;
• Experiências negativas de uso do
Facebook (ser perseguido, expor-se inadvertidamente à pornografia,
materiais ilegais, etc.) aparecem com baixa frequência, conforme os
dados sobre os estudantes. A despeito disso, a questão do controle da
privacidade merece atenção, já que muitos deles demonstram ter
conhecimento insuficiente do assunto, de modo que tornam públicas
informações pessoais, sem clareza desse fato;
• Uma pesquisa aponta um menor
rendimento acadêmico e menos horas de estudo entre usuários do Facebook,
em comparação com não usuários. Entretanto, tal aspecto precisa ser
mais investigado, já que o trabalho não permite inferir causalidade;
• O efeito que as informações postadas
por uma professora têm quanto à percepção dela pelos alunos é destacado
num dos trabalhos. Sugere-se que, para efeito da confiança dos
estudantes, a maior abertura do perfil e informações mais diversificadas
têm resultado positivo. A questão da credibilidade do professor, a
partir de sua exposição no Facebook, porém, merece aprofundamentos.
Ao tentar explicar por que o Facebook é
pouco usado com enfoque na aprendizagem pelos estudantes, Hew aponta a
expectativa de uso recreativo da rede por eles, que tendem a separar
propositalmente as práticas educativas e o uso do Facebook.
Embora somente parte das pesquisas
desta revisão se desenvolva em contextos diretamente pedagógicos
(instituições educativas, cursos, por exemplo), chama a atenção o fato
de que o papel das escolas e professores é pouco explorado nas
investigações. Assim, se por um lado sabemos que as expectativas dos
estudantes no uso de redes voltam-se ao reforço ou manutenção de laços
sociais e a uma dimensão mais lúdica, por outro, qual é a visão da
escola e do professor diante disto? E quais têm sido suas práticas?
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